5 produtos que não vingaram em 2022Novidades que esperávamos ver em 2022, mas que ficaram para 2023

Telas QD-OLED

Smartphones, notebooks, tablets, TVs e todo tipo de eletrônico premium moderno utiliza basicamente dois tipos de tela: LCD, que utiliza um painel de cristal líquido com diversos filtros de cor para gerar a imagem, acompanhado de iluminação de fundo para torná-la visível; ou OLED, que se destaca por emitir luz própria, acender e apagar pixels individualmente entregando pretos profundos e contraste intenso (a diferença entre os pontos mais e menos iluminados do display), e atingir alta precisão de cores com mais facilidade. No entanto, nenhuma dessas tecnologias é perfeita: apesar de atingir níveis de brilho muito mais altos, o LCD sofre com o chamado “blooming”, efeito em que, em cenas escuras, elementos brilhantes apresentam uma aura luminosa incômoda. Métodos como o uso de zonas de iluminação (também chamado de local dimming, em que a iluminação traseira é dividida em áreas que acendem e apagam de maneira independente) e de Mini LEDs (os LEDs tradicionais são substituídos por lâmpadas 4x menores) aliviam o problema, mas não o eliminam. Do outro lado, o contraste intenso do OLED, decorrente da iluminação independente de cada pixel, é ofuscado pelo baixo nível máximo de brilho e o risco do burn-in, ou o “efeito de imagem fantasma” — imagens estáticas exibidas por tempo demais acabam literalmente marcadas na tela, mesmo quando outra imagem é exibida, pela forma como esse tipo de display funciona. Em 2022, a Samsung Display, divisão da gigante sul-coreana especializada em fabricar telas, anunciou o QD-OLED, ou Quantum Dot OLED, novo tipo de painel que tenta unir as melhores características e contornar os piores defeitos do LCD e OLED. Múltiplas mudanças foram feitas na estrutura do display, começando pela camada OLED: enquanto a versão tradicional usa uma combinação de OLED vermelho, verde, azul e branco (para aumentar o brilho), o QD-OLED adota apenas duas ou mais camadas do OLED azul. Além disso, diversas camadas “desnecessárias”, como a de polarização para direcionar as ondas de luz e as de filtro de cor, são eliminadas, dando lugar aos Quantum Dots — cuja presença é indicado pela letra Q em TVs QLED, por exemplo —, ou pontos quânticos. Esses pontos são cristais especiais que absorvem uma onda de luz de uma cor específica e a transforma em outra, sem que haja perda de brilho ou intensidade. No QD-OLED, o display emite luz azul, que possui a maior quantidade de energia no espectro da luz visível, e a converte nas luzes de menor energia, respectivamente o verde e o vermelho. Como não há perda de brilho no processo, menos estresse é aplicado no painel, consequentemente reduzindo o risco de burn-in. Tudo isso sem perder a principal característica do OLED: o controle de ligar e desligar cada pixel de maneira individual. Mesmo que a tecnologia seja muito recente, sem estudos por tempo prolongado, a Samsung e outras companhias especializadas em painéis estão confiantes na capacidade do novo display, já recebendo ordens de fabricantes de TVs e monitores de peso, como Sony, Dell e até a própria Samsung Electronics (que opera de maneira independente da Samsung Display). Todas têm oferecido 3 anos de garantia contra burn-in, com substituição da tela em caso de surgimento do defeito, algo impensado para o OLED tradicional. Relatos de usuários que apostaram em dispositivos munidos da tecnologia indicam que as promessas foram cumpridas, não notando a presença de imagens fantasma mesmo após mais de 6 meses de uso intenso. Ainda que não elimine os defeitos do OLED por completo, o QD-OLED é extremamente promissor, sendo uma das melhores novidades de 2022 e, caso os investimentos sigam a todo vapor, é provável que vejamos um enorme crescimento desse tipo de painel em 2023.

Monitores com tela flexível

Se não são perfeitas, as telas OLED tradicionais possuem versões com mais uma característica curiosa: a possibilidade de serem flexionadas. Essa flexibilidade é uma das responsáveis pelos smartphones e notebooks dobráveis, por exemplo, mas, até o momento, havia sido pouco explorada no segmento de monitores, restrita a ampliar a curvatura de alguns modelos gamer extremos. Tida como uma das principais fabricantes de painéis OLED em tamanhos maiores, a LG Display trouxe ao mercado no final de 2022 uma aposta diferente: uma tela que permitiria ao próprio usuário decidir quando a tornaria curva, ou quando precisaria utilizá-la no formato plano. Dessa iniciativa nasceram o Corsair Xeneon Flex e a LG OLED Flex LX3, dois projetos chamativos tidos como os primeiros monitores do mundo a permitirem que o usuário flexione a tela. Mais simples, o Xeneon Flex é acionado manualmente, com barras nas laterais que curvam o painel quando forçados para dentro, e o tornam plano ao serem forçados para fora, tendo estrutura robusta o suficiente para suportar qualquer posição com raio de até 800R (um dos maiores disponíveis). A OLED Flex da própria LG, por outro lado, foi desenvolvida para ser a principal demonstração da tecnologia, realizando o procedimento com o apertar de um botão, utilizando um motor dedicado. Ambos são voltados para o público gamer, apresentando características como taxa de atualização de até 240 Hz, resolução de ao menos 3440 x 1440 pixels, HDR com picos de brilho de 1.000 nits e tecnologia de taxa de quadros variável (VRR) com Nvidia G-Sync e AMD FreeSync Premium Pro, que sincronizam o painel com a placa de vídeo dos PCs e consoles para evitar a quebra de quadros. Ainda que a princípio os displays com tela flexível atendam apenas aos jogadores, a possibilidade de ser curvada manualmente e até dobrada promete resultar em apostas mais ousadas nos próximos anos.

Comunicação via satélite e 5G NTN

Quando anunciou a família iPhone 14 em setembro de 2022, além dos já tradicionais avanços de software e hardware esperados da marca, a Apple chamou atenção com uma novidade curiosa: a possibilidade de utilizar comunicação via satélite. Apesar de não ser exatamente nova, a tecnologia exigia, até então, antenas extremamente robustas, o que não apenas impactava no tamanho dos dispositivos compatíveis, como também na autonomia de bateria. O feito é grande considerando que não houve impactos no formato e peso dos iPhones. Por outro lado, a solução não é um sistema avançado de comunicação, ao menos por enquanto — os usuários podem apenas enviar a localização e mensagens básicas a centrais de socorro que possuam contrato com a Apple. Outros dois obstáculos são a necessidade de localizar o satélite ideal para a conexão apontando o celular para o céu, e a eventual mensalidade que será cobrada no futuro, de valor ainda desconhecido. Mesmo assim, a tecnologia é extremamente promissora e chegou a salvar a vida de aventureiros donos de iPhone que se perderam em situações extremas, devendo ainda ser implementada por outras marcas em 2023. Dito tudo isso, quem idealizou um futuro com comunicação mais complexa utilizando a infraestrutura dos satélites tem um sonho possível em mãos, e compartilhado com os órgãos globais de telecomunicações. O ano de 2022 também marcou o estabelecimento do chamado 5G NTN (Non-Terrestrial Networks, ou Redes Não Terrestres, em tradução livre), cujas especificações foram lançadas com o pacote Release 17 da 3GPP, a instituição internacional que atua com agências de telecomunicações pelo mundo para definir novos padrões e tecnologias. O NTN funcionaria de maneira similar à solução da Apple, mas seria muito mais avançada. Segundo informações da MediaTek, a primeira gigante apostando no protocolo, o método levaria apenas 10 segundos para estabelecer comunicação com um satélite e possibilitaria aos usuários ter conversas com qualquer pessoa através de mensageiros tradicionais, mesmo que o destinatário esteja utilizando uma rede móvel tradicional. Todas essas vantagens seriam obtidas também sem o uso de enormes antenas, assim como a função da Maçã. Os primeiros celulares com suporte ao 5G NTN estão previstos para chegar ao mercado no início de 2023 e, caso cumpram as promessas, poderão simbolizar o início de uma nova era das telecomunicações, melhor preparada para atender mesmo as regiões mais remotas.

Bluetooth LE Audio com Auracast

Os últimos anos foram testemunhas do crescimento de dispositivos de áudio sem fio, que trabalham via conexão Bluetooth. Com o lançamento de codecs avançados (sistemas que comprimem o áudio para acelerar o envio dos dados), como o LDAC da Sony e o aptX Lossless da Qualcomm, não foi raro o lançamento de fones premium que entregam som de alta definição. A má notícia é que esses codecs não são amplamente adotados: nem todo dispositivo equipado com Bluetooth é compatível, especialmente se o aparelho for pensado para oferecer maior custo-benefício, já que as fabricantes são obrigados a pagar royalties (no caso do LDAC) ou utilizar um processador Snapdragon compatível (para o aptX Lossless e similares). Nesses cenários, o usuário estaria limitado ao SBC, padrão do Bluetooth já um tanto antigo e bastante limitado na largura de banda (a quantidade de dados transmitida por segundo). Visando contornar essa barreira, a Bluetooth SIG, consórcio internacional que regula a conexão sem fio, anunciou em 2020 o lançamento do Bluetooth Low Energy Audio, ou apenas LE Audio. As especificações finalizadas foram disponibilizadas para todas as fabricantes agora em 2022, e têm como principal novidade o codec LC3, desenvolvido para substituir o SBC. Muito mais otimizado, o LC3 forneceria som de qualidade muito superior mantendo as mesmas taxas de transferência, com garantia de que veríamos acessórios Hi-Fi adotando a novidade. Outro benefício, como o nome LE sugere, é a eficiência energética — utilizando a nova tecnologia, celulares, notebooks e outros aparelhos gastariam menos energia ao estarem conectados a fones e dispositivos com Bluetooth LE Audio, o que poderia se converter em melhor autonomia de bateria. Fechando o pacote, uma das funcionalidades mais interessantes alimentadas pelo LC3 é o Auracast. Com ele, um único sinal de áudio poderia ser enviado para múltiplos dispositivos de reprodução de som — pense em amigos assistindo a um filme num mesmo dispositivo, cada um utilizando seu próprio par de fones de ouvido Bluetooth. Não por acaso, o nome é uma referência ao Miracast, padrão de transmissão de imagem sem fio que facilitou o espelhamento de tela em TVs e monitores. O Bluetooth LE Audio já está presente em alguns telefones premium lançados no final de 2022, e deve ser expandido para mais dispositivos e acessórios no decorrer de 2023.

Primeira GPU gamer em chiplets

Por décadas, processadores e outros chips foram desenvolvidos em um design conhecido como monolítico, em que todos os principais componentes são concentrados em um único conjunto de circuitos (também conhecido como die). Nesses dies, os inúmeros cálculos são realizados pelos transistores, que produzem as sequências de zeros e uns responsáveis por gerar as imagens, sons e dados que temos hoje em dia. O objetivo das fabricantes com o passar do tempo era aumentar a densidade de transistores, ou seja, o número deles por área (medida nos processadores em mm²). Em linhas gerais, e desconsiderando algumas limitações, quanto mais denso em transistores um chip for, menos energia será consumido e mais desempenho é oferecido. Essa densidade é obtida avaliando as características da litografia, ou processo de fabricação, etapa em que os circuitos são impressos no disco de silício utilizado como matéria-prima. Popularmente identificada por nanômetros (nm), as litografias mais antigas ultrapassavam os 96 nm, mas, com estudos intensos e fortes investimentos, os processos modernos já são capazes de oferecer o equivalente a 3 nm. Apesar de muito bem-vindos, esses avanços se refletiram no preço — mais do que nunca, é extremamente caro fabricar um chip monolítico utilizando litografias modernas. A solução mais aceita pela indústria para contornar esse feito colateral é o uso de chiplets, chips menores com propósito definido que podem ser combinados para gerar um chip maior. Algumas companhias já adotaram os chiplets de maneira ampla em CPUs, com mais gigantes planejando empregar a tecnologia nos próximos anos, mas, mais uma vez, há um custo: como os circuitos não estão no mesmo die, existe um atraso (ou latência) que pode impactar a performance. Nas CPUs, esse atraso tem deixado de ser um problema pela combinação de canais de comunicação mais velozes e os próprios dados processados, que não costumam passar dos megabytes (MB) de tamanho. Outros tipos de componentes, como as GPUs, de processamento gráfico, não teriam a mesma sorte por lidarem com volumes muito maiores de informação, ultrapassando a barreira de centenas de gigabytes (GB), especialmente no segmento gamer. Pelo menos isso era o que se pensava até 2022, quando a AMD anunciou a primeira família de placas de vídeo gamer cujo chip era composto por chiplets, a linha Radeon RX 7000. Essas placas ainda são modestas na implementação de chiplets, ao manter os circuitos principais em um único die (o Graphics Compute Die, GCD) e separar apenas os elementos de memória em diferentes chiplets (os Memory Cache Dies, ou MCDs), mas mostram as possibilidade para designs futuros. Mesmo que não seja algo inédito na indústria — a própria AMD havia usado chiplets na família de CPUs Ryzen, e há presença de GPUs com chiplets no segmento de servidores —, essa foi a primeira vez que o método foi empregado em componentes para games, uma das aplicações mais sensíveis a atrasos. A empresa conseguiu contornar a latência com soluções engenhosas, incluindo canais de comunicação que superavam os 3 TB/s, recebendo como benefício a redução de custos de fabricação. Tudo indica que a linha Radeon RX 7000 é apenas a primeira a empregar esse design, marcando o início de uma era de chiplets em GPUs — rivais como Intel e Nvidia deverão começar a apostar na tecnologia em futuras gerações de placas de vídeo.

5 novas tecnologias que estrearam em 2022 - 56